19 mar Reabilitação pós-Covid-19
A pandemia do Sars-Cov-2 no mundo já se arrasta por pouco mais de uma ano. Sabe-se hoje que as manifestações clínicas principais são pulmonares e podem levar ao quadro de insuficiência respiratória, contudo existem outros sistemas que são acometidos em maior ou menor grau. A fisiopatologia vem sendo estudada e observa-se que há variações nas apresentações depende de como está o organismo de cada indivíduo. Daí ser um desafio.
Vários estudos foram publicados sobre os sintomas pós Covid-19. Por ser um vírus que causa um insulto inflamatório exarcerbado, as sequelas podem ser multissistêmicas.
A universidade de Stanford um consenso, que norteia o que deve ser observado após a alta dos pacientes das UTIs e enfermarias.
As sequelas variam de pessoa para pessoa, e o acompanhamento com um médico especialista em Medicina Física e Reabilitação (Fisiatra) faz diferença neste momento.
Importante investigar se existem sequelas pulmonares, cardíacas, neurológicas, musculo esqueléticas e psicológicas.
As recomendações de Stanford são:
Reabilitação Pulmonar
Complicações respiratórias necessita ser consideradas nos pacientes pós Covid-19. Muitos deles apresentam algum grau de comprometimento e limitação funcional com diminuição da função respiratória.
A avaliação inicial deve ser feita assim que possível, dependendo do grau de disfunção, falha da normocapnia respiratória e do estado físico e mental dos pacientes
Exercícios de baixa intensidade (<=3METs ou equivalente) devem ser considerados de início, particularmente para os pacientes que requeiram oxigenioterapia, enquanto concomitantemente se observam os sinais vitais (frequência cardíaca,pulso, oximetria e pressão arterial)
Reabilitação Cardíaca
Complicações cardíacas necessitam ser consideradas em todos os pacientes pós Covid-19. Todos os pacientes devem ser avaliados em relação aos sintomas cardíacos, recuperação funcional e danos em potencial. Dependendo da avaliação inicia e dos sintomas encontrados, exames específicos podem ser necessários, como exames sanguíneos, ECG de 24h, ecocardiograma cardiopulmonar, testes de esforço e ressonância cardíaca).
Um período de repouso pós-infecção, dependendo dos sintomas e complicações, irá reduzir os riscos de falha cardíaca pós-infecção secundária a miocardite.
Se a patologia cardíaca estiver presente, programas específicos de reabilitação devem ser instalados e monitorados em bases individuais dependendo das complicações, limitações e necessidades reabilitacionais.
Pacientes retornarão ao esporte de alta performance ou a atividades laborais de alta demanda, após miocardite, somente com 3-5 meses de total repouso. O período de repouso depende da clínica, da severidade e duração da doença, função ventricular esquerda e extensão da inflamação na ressonância cardíaca.
Treinos e esportes de alta performance após miocardite só serão permitidos se o ventrículo esquerdo tiver função sistólica normal, biomarcadores séricos de lesão miocárdica normais e sem relevante arritmia cardíaca no ECG de 24h.
Se os pacientes aos esportes de alta performance ou atividade de grande demanda, após miocardite deverão ser submetidos a reavaliações periódicas em particular nos 2 primeiros anos
Reabilitação Psicológica
Na fase aguda podem ser úteis: efetiva comunicação, contato social mesmo que remoto, e informação protocolar recomendada para pacientes admitidos no serviço de cuidado agudo ao Covid-19 do Serviço Nacional de Saúde relacionado às possíveis sequelas psicológicas.
Os indivíduos devem ser revisados na fase de recuperação para identificar aqueles que ficaram com sequelas psicológicas, como resultado da experiência com o Covid-19. Os profissionais da saúde que tem contato com o Covid-19 devem ser considerados grupos de alto risco. Essa revisão deve ser focada em humor e bem-estar.
Monitoramento ativo (revisões constantes) é recomendado para aqueles que mostrarem sintomas psicológicos, mesmo que subliminares.
Encaminhar para serviço de psicologia e considerar a possibilidade de trauma psicológico, com foco em terapia cognitivo comportamental, processo cognitivo terapêutico ou dessensibilização e reprocessamento, todos os pacientes que tiveram sintomas moderados a severos na fase aguda com desordens de estresse.
Reabilitação Músculo esquelética
Todos os pacientes que requerem reabilitação depois do Covid-19 necessitam ser avaliados no sentido de se determinar o residual musculoesquelético e o grau de comprometimento de modo a determinar o adequado programa de reabilitação.
Pacientes que tiveram admissão em UTI devem ter assistência de uma equipe multidisciplinar para o programa de reabilitação.
Pacientes que apresentarem a síndrome pós terapia intensiva devem ser incluídos no programa de reabilitação com esforços especiais nos 3 níveis de domínio de desabilidade: psicológica, física e cognitiva.
A reabilitação física após Covid-19 pode ser feita em séries incluindo internação, tratamento ambulatorial, tele monitoramento direcionado a adequar os exercícios às necessidades dos pacientes.
Reabilitação Neurológica
Todos os pacientes com Covid-19 devem ser revisados para a determinação de quaisquer sintomas neurológicos. Esses sintomas podem aparecer imediatamente (acompanhando o quadro de infecção aguda) ou tardiamente (depois de semanas do Covid-19). Devemos considerar também os risco cognitivo (cuidado pós crítico e dado cognitivo residual).
Reavaliações devem ser feitas na vigência do mais leve sintoma neurológico como cefaleia, tontura, perda de olfato ou paladar e alterações sensoriais de modo a melhorarem com intervenções mínimas.
Programas educacionais devem ser oferecidos a pacientes com sintomas leves a moderados até a completa recuperação.
Sintomas severos potencialmente podem resultar em uma significativa mudança ou comprometimento incapacitante, portanto a reabilitação com o paciente internado e equipe multidisciplinar é recomendada para pacientes com sintomas neurológicos moderados-severos para maximizar os resultados.
Avaliações física, cognitiva e funcional devem ser realizadas para suportarem o retorno às atividades laborativas de acordo com o trabalho realizado pelo paciente.
Recomendações para exercícios de reabilitação
Pacientes com Covid-19 que requereram oxigenioterapia ou tiveram linfopenia aguda necessitam ser identificados e testados para alterações radiológicas pulmonares e da função pulmonar.
Pacientes com Covid-19 que experimentaram os seguintes sintomas: dor de garganta severa, dores no corpo, falta de ar, fadiga, dor no tórax, tosse e febre, devem evitar exercícios (>= 3METs ou equivalente) por 2-3 semanas após cessarem os sintomas.
Pacientes com sintomas muito suaves , que podem ser ou não relacionados ao Covid-19 considerar as atividades leves (<= 3MET ou equivalente) mas limitando os períodos de sedentarismo. Aumentar os períodos de descanso se os sintomas se acentuarem. Treino prolongado, exaustivo ou intensivo deve ser evitado.
Assintomáticos com contato com Covid-19 positivo podem continuar a se exercitar normalmente dentro das atuais restrições governamentais.
No retorno de Covid-19 leve a moderado para exercícios, na primeira semana devem ser realizados com baixo nível de alongamento e fortalecimento muscular leve antes das sessões direcionadas de exercícios cardiovasculares. Pacientes de categoria severa devem seguir as recomendações acima com progressão dos exercícios após a reabilitação pulmonar.
Dra. Isolda de Araujo
Médica Fisiatra
CRM-SP 107017
RQE 79985